A união das esferas pública e privada no combate aos crimes financeiros atingiu um novo marco com a Aliança Nacional de Combate a Fraudes Bancárias Digitais, iniciativa do Ministério da Justiça e Segurança Pública em conjunto com a Febraban, que conta com a participação ativa da Abecs, entre outras entidades financeiras, reguladoras e do poder público, como a Polícia Federal, o Banco Central e a Anatel.

Formada em 2024 para enfrentar de forma coordenada os desafios relacionados à segurança digital, a Aliança Nacional estruturou seus pilares de atuação em três grupos temáticos (GTs). Focados em temas primordiais quando o assunto é prevenir, combater e reprimir golpes e crimes cibernéticos envolvendo as finanças dos brasileiros, os grupos temáticos são “Boas Práticas de Prevenção, Detecção e Combate”, “Compartilhamento e Tratamento de Dados e Informações” e “Tratamento de Vítimas e Capacitação de Agentes”.
Cada um deles contou com pelo menos um representante da Abecs, que contribuiu com os debates levando a experiência e a visão do mercado de meios eletrônicos de pagamento. Os GTs se reuniram semanalmente até abril/2025 e levantaram diretrizes que seguem agora para grupos técnicos responsáveis pela implementação das propostas, em cronogramas específicos, que vão até 2030.
Ao longo do trabalho dos grupos temáticos, a Abecs contribuiu com a visão e a experiência do setor de meios eletrônicos de pagamento em três frentes principais: compartilhamento e tratamento de dados, boas práticas de prevenção e combate, e apoio às vítimas de fraudes. Com a conclusão da fase dos grupos temáticos, em abril/2025, a Aliança Nacional de Combate a Fraudes Bancárias Digitais avança para sua etapa seguinte: a implementação das propostas por meio de grupos de trabalho, que deve durar até 2030.
Panorama Abecs conversou com esses representantes para entender como tem sido, até agora, a participação da Abecs na Aliança Nacional de Combate a Fraudes Bancárias Digitais.
Cooperação institucional e boas práticas
Wellington Senise Filho, consultor de Riscos, Investigação e Diagnóstico de Prevenção a Fraudes da Getnet, representou a Abecs no grupo temático Boas Práticas de Prevenção, Detecção e Combate. A integração entre governo e indústria foi uma das tônicas desse GT, que entendeu que, no combate a fraudes, o escopo deve mesmo ultrapassar o sistema bancário, envolvendo agências de telecomunicação e meios de pagamento.
“A indústria de cartões é madura no reporte de fraudes e no reembolso. Procuramos passar essa expertise para o grupo”, relata Senise.
A Resolução Conjunta no 6, do Banco Central, que promove o compartilhamento de informações de indícios de fraude, foi outro tema debatido, com a solicitação da Abecs para entrada na base compartilhada.
“Com a Aliança Nacional, damos um recado claro à sociedade: se os fraudadores se unem, nós também nos unimos, com um projeto específico e ampla cooperação institucional para combater as fraudes”, Wellington Senise Filho, consultor de Riscos, Investigação e Diagnóstico de Prevenção a Fraudes da Getnet
Foco em dados e tecnologia
Andrius Lopes, gerente executivo de Prevenção à Fraude e à Lavagem de Dinheiro do Banrisul Pagamentos, representou a Abecs no GT Compartilhamento e Tratamento de Dados e Informações. Segundo ele, a pluralidade de visões foi essencial para o amadurecimento das propostas. “No tema de fraude, cada instituição olha apenas para sua própria atuação ou, no máximo, para o mercado em que está inserido. A Aliança permite uma visão integrada, na qual todos trabalham juntos contra o fraudador”, destaca.
Com cerca de 50 participantes, o grupo definiu os principais pontos a serem abordados em termos de tratamento de dados em fraudes:
. Aperfeiçoamento e ampliação da utilização da Plataforma Tentáculos, base de dados da Polícia Federal para coleta e troca de informações
. Criação de uma rede colaborativa multissetorial sobre fraudes financeiras, ampliando os laboratórios já existentes sobre o tema
. Expansão e melhoria dos sistemas Infoconv, ferramenta de coleta e fornecimento de dados da Receita Federal
. Proposição de interface padronizada e compartilhada com telecoms
. Padronização e compartilhamento de identificação de dispositivos móveis
“Uma das características mais importantes da Aliança Nacional é ter diferentes agentes olhando para um mesmo ponto. Não há concorrência na prevenção a fraude; são múltiplos setores contra um só inimigo: o fraudador. A Aliança Nacional é uma união de forças, públicas, privadas e reguladoras, com cada um trazendo sua visão única do mercado”, Andrius Lopes, gerente executivo de Prevenção à Fraude e à Lavagem de Dinheiro do Banrisul Pagamentos
Atenção ao consumidor: foco no acolhimento e orientação
Juliana Yaginuma, coordenadora de Segurança do Produto da Porto Bank, representou a Abecs no GT Tratamento de Vítimas e Capacitação de Agentes. O grupo discutiu as principais dores enfrentadas pelos consumidores em situações como roubo de celular ou clonagem de redes sociais.
“Identificamos que um ponto primordial, além de trabalhar na conscientização, é padronizar ações, para que o consumidor não fique perdido quando é vítima de um crime. Elencamos os dez principais ofensores, como engenharia social e roubo de identidade nas redes digitais, e será definido um passo a passo que deve ser seguido pelo consumidor em cada um desses casos; uma cartilha acessível e prática”, Juliana Yaginuma, coordenadora de Segurança do Produto da Porto Seguro Bank.
O material está em fase de estruturação gráfica, e o trabalho do GT deve seguir em novas fases de atuação.
Segundo a executiva, a participação da Abecs contribuiu com o conhecimento sobre os fluxos dos meios eletrônicos de pagamento. “O consumidor precisa estar no centro da estratégia de combate a fraudes. Uma iniciativa como a Aliança Nacional, com diversidade de visões e atuações, traz inclusive impactos psicológicos positivos para o consumidor, de que há um ecossistema trabalhando contra os golpes financeiros”, diz.
Contribuição setorial
A atuação da Abecs na Aliança Nacional de Combate a Fraudes Bancárias Digitais esteve vinculada ao Fórum de Segurança e Prevenção a Fraudes da Associação, coordenado por Fidel Beraldi, diretor de Customer Compliance e Fraudes da Mastercard. Para ele, a contribuição da indústria de cartões vai além da tecnologia. “Nosso papel é compartilhar expertise com os órgãos de repressão, colaborando para atuarem com mais eficiência”, afirma.
Por Panorama